terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pai, filho e sarilho no CA da Federação

ANTÓNIO Guedes de Carvalho, ex-observador de árbitros da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), acusa Azevedo Duarte, vice-presidente do Conselho de Arbitragem (CA), de ter interferido na classificação que ditou a sua despromoção do cargo no final da última época. O ex-internacional e observador há três anos da FPF afirma ter sido «pressionado» por Azevedo Duarte «para prejudicar dois árbitros concorrentes do filho, Hernâni Duarte, na subida ao quadro de 1ª categoria em 2003/04».

Segundo Guedes de Carvalho, o dirigente ter-lhe-á pedido para «prejudicar na avaliação» Cosme Machado, juiz de Braga, «que andava a morder os calcanhares do filho». Uma das abordagens terá sido feita em Dezembro, um dia depois do jogo Bragança-Trofense. A segunda terá acontecido em Março, após o jogo Rio Tinto-Lusitânea, apitado por um árbitro de Viana. Guedes de Carvalho, 49 anos, garante que das duas vezes recusou a «cunha» pelo então vogal do CA.

«Respondi-lhe que escusava de me pedir favores. Tenho mais de 25 anos na arbitragem e não era agora que me ia sujar ou fazer algo contra a minha dignidade», comenta o acusador, afiançando que deu conta das abordagens a Pinto de Sousa, então líder da arbitragem : «Prometeu-me que estaria atento e que eu não seria prejudicado por não ter dado o jeito»

Em Abril, Pinto de Sousa e outros três membros do CA são indiciados na Operação Apito Dourado, tendo pedido a demissão. O vogal Azevedo Duarte - o único dos elementos do CA alvo de buscas da Judiciária que não seria indiciado - sobe então a vice-presidente da arbitragem da FPF, apesar de um dos filhos integrar o quadro de árbitros federativos (Hernâni Duarte) e o outro, Augusto Duarte, o da Liga.

No final da época, Guedes de Carvalho foi 45ª classificado, o primeiro dos lugares a ditar a despromoção, e Hernâni Duarte subiu à 1ª categoria. Contactado pelo EXPRESSO, Azevedo Duarte não quis comentar a questão, ripostando que «não tem de dar satisfações a ninguém».

Embora esta época os dois filhos não dirijam jogos dos escalões de que é um dos responsáveis pelas nomeações (II B e III Divisão), a questão da coexistência de interesses mantém-se nos encontros da Taça de Portugal, competição da alçada federativa.

Incompatibilidades por medida

Carlos Esteves, à epoca presidente da arbitragem da FPF, assegura que, para evitar especulações, são da sua inteira competência as nomeações da Taça, face a «um acordo de cavalheiros que impede Azevedo Duarte de participar nas designações em que entram árbitros da Liga». Foi ele quem nomeou esta semana Augusto Duarte para o Real-Marítimo e o irmão para o Penafiel-Nazarenos.


Apesar destas cautelas, o clima de «mau estar» pela inexistência de um regulamento de incompatibilidades na FPF é confirmado por Luís Guilherme, o líder da arbitragem da Liga. Este tipo de incompatibilidade foi introduzido pela Liga há duas épocas e estipula «haver conflito de interesses» sempre que os agentes da arbitragem estejam em condições «de emitir juízos de valor ou ter acesso a informação privilegiada em que possam ter interesse parentes ou afins em linha directa ou colateral até 3º grau».

Para Luís Guilherme este tipo de inibição é benéfica para a defesa dos próprios árbitros, razão por que tentou, em vão, alargá-la à arbitragem da FPF. Desta opinião comunga ainda Vítor Reis, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros, para quem a coexistência de familiares sob a alçada de órgãos comuns nem precisaria de regulamentos: «É uma questão de ética e bom senso».

Outra voz crítica é a do ex-árbitro Jorge Coroado, que diz não entender como foi possível a FPF criar «impedimentos para situações menores» e deixar de fora este «caso delicado». Coroado ficou impedido de assessorar a arbitragem da FPF por ter uma crónica n’«O Jogo». O pai de Lucílio Baptista, com as mesmas funções na FPF, abandonou-as pelo facto de o filho se manter no activo.

O pai de Paulo Paraty e o irmão de António Costa, delegados da Liga que asseguram as condições de organização de jogos, foram também afastados enquanto os filhos permanecerem em funções. «Pelos vistos, as incompatibilidades são feitas à medida», conclui Coroado.

Fonte:
Isabel Paulo

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