segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O caso das Batatas e a Corrupção no Futebol

"Concorda com o que vem no seu relatório social?" A esta pergunta do juiz-presidente António Carneiro da Silva, Valentim Loureiro respondeu que não estava de acordo com alguns pontos, mas que apresentaria a sua indignação por escrito.



O CM sabe que no documento elaborado pelo Serviço de Reinserção Social, é mencionado o ‘caso das batatas’ de Valentim Loureiro, em Angola, corria o ano de 1965.

Em tempos de Ultramar, Valentim ficou responsável pelo Depósito Avançado de Viveres nº 823, em São Salvador, Angola. Com poder para tal, adjudica o fornecimento das batatas a um comerciante, ManuelCabral, mas pelo preço de quatro escudos, mais 50 centavos do que o preço real do quilo.

Na altura, o capitão Loureiro terá arrecadado cerca de 260 contos, o que lhe valeu a expulsão do Exército, no qual foi novamente reintegrado em 1980, sendo posteriormente promovido a major, passando depois à reserva.

O episódio consta no relatório social de Valentim e terá mesmo sido esse um dos apontamentos entregues pelo Serviço de Reinserção Social – encarregue desse tipo de documentos –, que lhe desagradou. O presidente da Câmara de Gondomar, quando questionado sobre rendimentos mensais, cingiu-se ao salário que recebe na autarquia: 3300 euros.

Ontem foi o último dia de julgamento antes da leitura do acórdão, a 18 de Julho. Nas derradeiras alegações, destaca-se a metáfora de Narciso Correia, advogado de Manuel Barbosa da Cunha, então observador da Federação. 'Este processo tem muitas semelhanças com o Titanic. Há muito tempo que mete água, já deu tempo para alguns abandonarem o barco e irá ao fundo nos próximos tempos', apontou.

Já Amélia Oliveira, advogada do árbitro assistente João Macedo, afirmou que o julgamento do processo ‘Apito Dourado’ só tem razão de existir por Portugal ser um 'país de terceiro mundo'.

Em considerações finais, o juiz António Carneiro da Silva não quis deixar de desvalorizar o ‘Apito Dourado’.'Penso que este caso tem mais relevo do que o que merece. Há julgamentos, todos os dias, com muito mais importância.'

OS RENDIMENTOS DOS ARGUIDOS

RECUSOU REVELAR O SEU SALÁRIO MENSAL (José Luís Oliveira, Autarca)

José Luís Oliveira foi o único arguido que não revelou o que aufere mensalmente, para além de SérgioSedas, que está em Inglaterra e foi dispensado do julgamento.'Não' foi a resposta preferida de Oliveira ao juiz Carneiro da Silva.

Pinto de Sousa revelou-se o mais abastado dos 24 arguidos

Pinto de Sousa: 6500 euros

Castro Neves: 5000 euros

Valentim Loureiro: 3300 euros

João Mesquita: 2500 euros

Luís Nunes: 2000 euros

Américo Neves: 2000 euros

Leonel Viana: 1750 euros

Francisco Costa: 1750 euros

António Ferreira: 1750 euros

José Horta Ferreira: 1580 euros

Carlos Carvalho: 1500 euros

Agostinho Silva: 1480 euros

Licínio Santos: 1000 euros

Hugo Vladimiro: 900 euros

Valente Mendes: 900 euros

Barbosa da Cunha: 900 euros

Jorge Saramago: 800 euros

Pedro Sanhudo: 600 euros

José Manuel Rodrigues: 600 euros

António Eustáquio: 500 euros

João Macedo: estudante

Ricardo Pinto: estudante

Sérgio Sedas: ausente

FRANCISCO COSTA SAI DO CA DA FEDERAÇÃO

Francisco Costa vai abandonar o cargo de vice-presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O antigo vogal do mesmo CA, que responde no julgamento de Gondomar por 26 crimes de corrupção passiva por cumplicidade, apoia a sua decisão no cansaço mas também na desilusão.

As decisões do Conselho de Disciplina da Federação, órgão que suspendeu 26 árbitros, deixaram Francisco Costa à beira de um ataque de nervos, sendo essa outra das razões para o abandono das funções no CA.

Francisco Costa, tal como os árbitros arguidos no julgamento de Gondomar, esteve suspenso durante um ano, período após o qual voltou ao activo. Agora, decide retirar-se e já terá mesmo comunicado a sua decisão à FPF .

Costa era, em 2003/04, vogal do CA responsável pelas nomeações. Alegadamente, seria o homem que estaria ligado ao Dragões Sandinenses, razão pela qual José Luís Oliveira se revelava revoltado a Pinto de Sousa. Contudo, acabou acusado de 26 crimes por ajudar no suposto plano de nomeações para os jogos do Gondomar.

Dos 26 crimes, o procurador Gonçalo Silva não pediu condenação em apenas um, relativo ao Trofense-Gondomar, de 2003/04. n

APONTAMENTOS

JOGO DE FUTEBOL

Manuel Luís Ferreira, advogado do árbitro Valente Mendes, comparou o julgamento a um jogo de futebol: os árbitros são os juízes, uma equipa é a Defesa, a outra é a Acusação.Contudo, esta formação, frisou, é constituída por dez jogadores de nome Carlos Teixeira e só um Gonçalo Silva, ambos procuradores.

'NÃO VOU POR AÍ'

A advogada Fátima Castro disse que o seu cliente António Eustáquio já não tinha 'mais lágrimas para chorar' por este processo. Depois, citou o ‘Cântico Negro’, poema de José Régio: 'Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí.'

CAROLINA: APENSO REJEITADO

Amílcar Fernandes, advogado do major, quis apensar ao julgamento a decisão instrutória do caso da ‘fruta’, de forma a testar a credibilidade de Carolina Salgado. O juiz indeferiu o pedido.

18 DE JULHO DE 2008: SENTENÇA

O julgamento do ‘Apito Dourado’ emGondomar, que finalizadas as alegações, teve a leitura do acórdão agendada para as 10h30 do dia 18 de Julhode 2008

NÚMEROS: 179 TESTEMUNHAS

Foram 43 as sessões do julgamento que teve início a 11 de Fevereiro de2008. O colectivo de juízes ouviu 179 testemunhas.O processo já contém 108 volumes.

OLIVEIRA E NEVES ZANGADOS

José Luís Oliveira e Castro Neves, arguidos no ‘Apito Dourado’, estão zangados. O antigo presidente do Gondomar não gostou de ver Pedro Alhinho, advogado de Castro Neves, demarcar o seu cliente da acção de Oliveira. Em resposta, a actual direcção do clube nortenho veio, em comunicado, criticar Neves, o que o deixou irritado.

Fonte:
Sérgio Pereira Cardoso

Sem comentários: