Estado vai ter de pagar pela decisão da Justiça portuguesa
Acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu razão a José Manuel Mestre que tinha sido obrigado pela Justiça portuguesa a pagar quatro mil euros a Pinto da Costa, por difamação. A lei portuguesa considerou que houve ofensa do bom nome de Pinto da Costa, no entanto, o Tribunal Europeu decidiu que o “assunto da corrupção no futebol é do interesse geral”.
O jornalista português José Manuel Mestre viu o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) dar-lhe razão ao obrigar o Estado português a pagar-lhe 2100 euros, refutando as acusações de que tinha sido alvo há cinco anos, na sequência de uma queixa de Pinto da Costa.
Em 2002 o Tribunal da Relação do Porto considerou o profissional da estação de televisão SIC culpado do crime de difamação de Pinto da Costa e de abuso da liberdade de imprensa, condenando-o ao pagamento de quatro mil euros a Pinto da Costa e mais 120 dias de multa a 10 euros por dia. Na altura, o jornalista pagou os 5.200 euros, caso contrário incorreria numa pena de prisão que poderia ir até 80 dias.
Mestre poderá agora recorrer novamente à Justiça portuguesa, de forma a tentar ser indemnizado por todos os gastos que foi obrigado a fazer e que a indemnização estipulada pelo TEDH não cobre. Mas essa é uma batalha que o próprio ainda não sabe se vai travar.
O constitucionalista Jorge Miranda assegurou, contudo, que o acórdão europeu “não revogou a decisão dos tribunais portugueses” e Mestre vai continuar a ser considerado culpado da difamação de Pinto da Costa, pelo menos em Portugal. Embora a decisão do TEDH seja igualmente legítima o que fará com que o Estado português tenha mesmo de abrir os cordões à bolsa.
O dono da bola
No programa “Os Donos da Bola”, de 1996, Mestre, que tinha feito um trabalho sobre a corrupção na arbitragem, chamou “Patrão dos Árbitros” ao Presidente do Futebol Clube do Porto (FCP), Jorge Nuno Pinto da Costa, que na altura acumulava o cargo no FCP com a presidência da liga de clubes, onde estava incluído o Conselho de Arbitragem.
Pinto da Costa não gostou e moveu um processo judicial contra o jornalista, que foi considerado culpado de difamação e de abuso da liberdade de imprensa, primeiro no Tribunal Criminal e depois na Relação do Porto. Tendo ainda sido condenado ao pagamento de quatro mil euros ao presidente do FCP.
Se a lei portuguesa considerou que houve ofensa do bom nome de Pinto da Costa, o TEDH decidiu que o “assunto da corrupção no futebol é do interesse geral”, sublinhando ainda que o presidente do FCP é uma pessoa muito conhecida do público e que “a entrevista não retratou factos da vida privada, mas unicamente das suas actividades públicas”.
De indemnizador a indemnizado
Assim e numa decisão que José Mestre considerou “histórica” o direito a informar prevaleceu. Tendo o TEDH mencionado no acórdão que a Justiça portuguesa violou o 10º artigo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem referente à liberdade de expressão. O acórdão determinou que o estado português seja obrigado a pagar 2100 euros ao jornalista e 680 à SIC por danos causados.
Mestre não esconde o alento que esta sentença europeia lhe deu, especialmente “numa altura em que há tantas tentativas de limitar a liberdade de imprensa em Portugal” e lamenta que por vezes “os jornalistas tenham de se auto censurar para não serem condenados”.
Fonte:
Jornal "Expresso" 27 de Abril de 2007
2 comentários:
Mais um excelente trabalho de investigação.
E assim se controla os media, quem não está do lado deles tem medo de falar com medo que lhes "dêem de jantar" ou se vão a tribunal o mais certo é o juiz ter lugar cativo na tribuna presidencial do Futebol Corrupto do Porto.
São muito poucos os que ousam escrever algo contra o ditador do futebol portuga.
Um Grande Abraço
Este é o tipo de notícias que os nossos média gostam de esconder do grande público, afinal de contas onde é que já se viu falar-se que um jornalista ganhou um processo a Pinto da Costa? Esta notícia foi desenterrada do baú.
Amanhã haverá um post sobre o tráfico de influências nos média, tráfico de influências na federação que envolve o império Oliveira, numa entrevista desenterrada de uma personalidade que tendo convivido de perto com a corrupção acabou por se voltar contra a mesma.
Um enorme abraço
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