"Concorda com o que vem no seu relatório social?" A esta pergunta do juiz-presidente António Carneiro da Silva, Valentim Loureiro respondeu que não estava de acordo com alguns pontos, mas que apresentaria a sua indignação por escrito.
O CM sabe que no documento elaborado pelo Serviço de Reinserção Social, é mencionado o ‘caso das batatas’ de Valentim Loureiro, em Angola, corria o ano de 1965.
Em tempos de Ultramar, Valentim ficou responsável pelo Depósito Avançado de Viveres nº 823, em São Salvador, Angola. Com poder para tal, adjudica o fornecimento das batatas a um comerciante, ManuelCabral, mas pelo preço de quatro escudos, mais 50 centavos do que o preço real do quilo.
Na altura, o capitão Loureiro terá arrecadado cerca de 260 contos, o que lhe valeu a expulsão do Exército, no qual foi novamente reintegrado em 1980, sendo posteriormente promovido a major, passando depois à reserva.
O episódio consta no relatório social de Valentim e terá mesmo sido esse um dos apontamentos entregues pelo Serviço de Reinserção Social – encarregue desse tipo de documentos –, que lhe desagradou. O presidente da Câmara de Gondomar, quando questionado sobre rendimentos mensais, cingiu-se ao salário que recebe na autarquia: 3300 euros.
Ontem foi o último dia de julgamento antes da leitura do acórdão, a 18 de Julho. Nas derradeiras alegações, destaca-se a metáfora de Narciso Correia, advogado de Manuel Barbosa da Cunha, então observador da Federação. 'Este processo tem muitas semelhanças com o Titanic. Há muito tempo que mete água, já deu tempo para alguns abandonarem o barco e irá ao fundo nos próximos tempos', apontou.
Já Amélia Oliveira, advogada do árbitro assistente João Macedo, afirmou que o julgamento do processo ‘Apito Dourado’ só tem razão de existir por Portugal ser um 'país de terceiro mundo'.
Em considerações finais, o juiz António Carneiro da Silva não quis deixar de desvalorizar o ‘Apito Dourado’.'Penso que este caso tem mais relevo do que o que merece. Há julgamentos, todos os dias, com muito mais importância.'
OS RENDIMENTOS DOS ARGUIDOS
RECUSOU REVELAR O SEU SALÁRIO MENSAL (José Luís Oliveira, Autarca)
José Luís Oliveira foi o único arguido que não revelou o que aufere mensalmente, para além de SérgioSedas, que está em Inglaterra e foi dispensado do julgamento.'Não' foi a resposta preferida de Oliveira ao juiz Carneiro da Silva.
Pinto de Sousa revelou-se o mais abastado dos 24 arguidos
Pinto de Sousa: 6500 euros
Castro Neves: 5000 euros
Valentim Loureiro: 3300 euros
João Mesquita: 2500 euros
Luís Nunes: 2000 euros
Américo Neves: 2000 euros
Leonel Viana: 1750 euros
Francisco Costa: 1750 euros
António Ferreira: 1750 euros
José Horta Ferreira: 1580 euros
Carlos Carvalho: 1500 euros
Agostinho Silva: 1480 euros
Licínio Santos: 1000 euros
Hugo Vladimiro: 900 euros
Valente Mendes: 900 euros
Barbosa da Cunha: 900 euros
Jorge Saramago: 800 euros
Pedro Sanhudo: 600 euros
José Manuel Rodrigues: 600 euros
António Eustáquio: 500 euros
João Macedo: estudante
Ricardo Pinto: estudante
Sérgio Sedas: ausente
FRANCISCO COSTA SAI DO CA DA FEDERAÇÃO
Francisco Costa vai abandonar o cargo de vice-presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O antigo vogal do mesmo CA, que responde no julgamento de Gondomar por 26 crimes de corrupção passiva por cumplicidade, apoia a sua decisão no cansaço mas também na desilusão.
As decisões do Conselho de Disciplina da Federação, órgão que suspendeu 26 árbitros, deixaram Francisco Costa à beira de um ataque de nervos, sendo essa outra das razões para o abandono das funções no CA.
Francisco Costa, tal como os árbitros arguidos no julgamento de Gondomar, esteve suspenso durante um ano, período após o qual voltou ao activo. Agora, decide retirar-se e já terá mesmo comunicado a sua decisão à FPF .
Costa era, em 2003/04, vogal do CA responsável pelas nomeações. Alegadamente, seria o homem que estaria ligado ao Dragões Sandinenses, razão pela qual José Luís Oliveira se revelava revoltado a Pinto de Sousa. Contudo, acabou acusado de 26 crimes por ajudar no suposto plano de nomeações para os jogos do Gondomar.
Dos 26 crimes, o procurador Gonçalo Silva não pediu condenação em apenas um, relativo ao Trofense-Gondomar, de 2003/04. n
APONTAMENTOS
JOGO DE FUTEBOL
Manuel Luís Ferreira, advogado do árbitro Valente Mendes, comparou o julgamento a um jogo de futebol: os árbitros são os juízes, uma equipa é a Defesa, a outra é a Acusação.Contudo, esta formação, frisou, é constituída por dez jogadores de nome Carlos Teixeira e só um Gonçalo Silva, ambos procuradores.
'NÃO VOU POR AÍ'
A advogada Fátima Castro disse que o seu cliente António Eustáquio já não tinha 'mais lágrimas para chorar' por este processo. Depois, citou o ‘Cântico Negro’, poema de José Régio: 'Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí.'
CAROLINA: APENSO REJEITADO
Amílcar Fernandes, advogado do major, quis apensar ao julgamento a decisão instrutória do caso da ‘fruta’, de forma a testar a credibilidade de Carolina Salgado. O juiz indeferiu o pedido.
18 DE JULHO DE 2008: SENTENÇA
O julgamento do ‘Apito Dourado’ emGondomar, que finalizadas as alegações, teve a leitura do acórdão agendada para as 10h30 do dia 18 de Julhode 2008
NÚMEROS: 179 TESTEMUNHAS
Foram 43 as sessões do julgamento que teve início a 11 de Fevereiro de2008. O colectivo de juízes ouviu 179 testemunhas.O processo já contém 108 volumes.
OLIVEIRA E NEVES ZANGADOS
José Luís Oliveira e Castro Neves, arguidos no ‘Apito Dourado’, estão zangados. O antigo presidente do Gondomar não gostou de ver Pedro Alhinho, advogado de Castro Neves, demarcar o seu cliente da acção de Oliveira. Em resposta, a actual direcção do clube nortenho veio, em comunicado, criticar Neves, o que o deixou irritado.
Fonte:
Sérgio Pereira Cardoso
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