Valentim Loureiro e Pinto da Costa faziam questão de manter uma boa relação com magistrados e polícias que mais tarde poderiam ser “úteis” noutro tipo de circunstâncias.
A maioria das situações detectadas nas escutas telefónicas no âmbito do processo Apito Dourado passam mesmo pela oferta de bilhetes para jogos internacionais, que o magistrado Carlos Teixeira considerou configurarem o crime de corrupção e serem passíveis de infracção disciplinar no caso dos magistrados que solicitaram as ofertas.
Outras há que não deram origem a qualquer extracção de certidão criminal, por nem sequer se ter determinado quem eram os envolvidos. No entanto, fica claro como se processava algumas teias de favores. Exemplo disso é uma conversa entre Pinto da Costa e o empresário Jorge Mendes, onde o dirigente portista pede ao segundo para arranjar um clube da 2.ª divisão para um guarda-redes que eles próprios consideram não ser especialmente dotado.
O motivo, no entanto, é claro: Pinto da Costa quer que o empresário faça o favor ao irmão do jogador, comissário da PSP de Gaia, cujo cargo, segundo Pinto da Costa, “tem sempre interesse”.
Dois dos magistrados envolvidos nesta situação (pedido de bilhetes) são Antero Luís, na altura juiz de 1.ª instância, actualmente director do SIS, e Madeira Pinto, juiz desembargador da Relação do Porto e à data magistrado do Tribunal de Menores.
Segundo as escutas, que deram origem a uma das certidões, Antero Luís pretenderia bilhetes para a inauguração do Estádio da Luz, enquanto Madeira Pinto queria assistir ao encontro Porto-Manchester. Os pedidos foram feitos através do advogado Lourenço Pinto e tiveram como interlocutores Valentim Loureiro e Pinto da Costa. Lourenço Pinto garantiu que os bilhetes foram pagos.
Houve também um caso investigado pelas autoridades que dizia respeito a um contrato de trabalho do filho do juiz Costa Mortágua, celebrado com a Câmara de Gondomar. O contrato chegou a ser apreendido durante uma busca à autarquia, mas as autoridades não conseguiram demonstrar que tinha havido tráfico de influências.
JUIZ COSTA MORTÁGUA
"ESSE NÃO PODE SER, QUE ESSE É SPORTINGUISTA"
Valentim Loureiro liga ao presidente do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, o juiz Costa Mortágua, a propósito de declarações prestadas por Dias da Cunha. O magistrado dá-lhe conta de que as afirmações de Saldanha Sanches que também merecem participação e acaba a prometer abrir um inquérito ao dirigente do Sporting e arranjar um colega que não seja sportinguista.
Costa Mortágua (CM) - ...em directo...que...os grandes clubes..ele disse, à cabeça, que os grandes responsáveis pela corrupção, pelo que está mal no futebol, - aquelas merdas todas, aqueles chavões! - que eram os dois nomes: Gilberto Madaíl e Valentim Loureiro! Exactamente assim, pá!!
Valentim Loureiro (VL) - Não me diga que isso, também tem que se fazer uma participação para a...criminal, ou não?!
CM: – Essa... essa... essa é que sim. Essa, eu chamei a atenção disso ao Madaíl.
VL: O senhor é da área, porra! O que é que lhe parece? Hã?
CM - Eu chamei a atenção ao Madaíl, que me disse...que ia..tentar obter a cassete. Eu ontem falei com ele...falei com ele...ele vai hoje à Suíça, mas segunda-feira vamos aí faze...vou tentar, pá!... não deixar esfriar isto...
VL - Para ele coisa, e... e transcreve-a?...Para ele
CM - E porque...essa é que fala mesmo com os...vem com os nomes à cabeça! Está a ver... o Saldanha Sanches é um fiscalista, não percebe nada de futebol, pá...e, chega ali, debita um ódio terrível em cinco minutos, pá...
VL - Quê? Os responsáveis são A e B! Prontos! Come também.
CM - A e B! À cabeça! Nomes e tudo!
VL - Come também!
CM - É que não é o Presid... é: Gilberto Madaíl e Valentim Loureiro. Quer dizer... cidadãos...
VL -Nós é que somos os responsáveis?...
CM - Exactamente! Oh pá, não pode ser!
VL - Tem que dizer porquê!
CM - Pá! Evidente, pá! É evidente! (...) Eu disse ao Madaíl para arranjar a cassete da SIC, pá... porque essa é fundamental, está lá o nome... os dois nomes e... eh pá, eu fiquei... eu fiquei... achei aquilo horrível.
VL: - Está bem. OK. Mas, ouça: essa, se for, ´é... é... participação, nem é preciso falar... é pumba!
CM - Pumba! Essa é directa, pá!
VL - Percebe? Pumba! (risos)
CM - Essa é directo!
VL - O resto é conversa...
CM - Eh... qua... não diga nada que...
VL - Não, não, não!
CM - Diga... Não! Diga que... diga que vai mandar para o Conselho de Justiça, e tal, não faça considerações, porque eu, na próxima reunião...
VL - Sim...
CM - Vou... vou mandar... abrir um inquérito..
VL - É...
CM - ... e vou pôr um colega a ouvi-lo.
VL - Sim, sim! Eu tenho lá um gajo bom, pá! Aquele gajo que conseguiu engavetar o Pimenta!
CM - Sim. Mas esse não pode ser, que esse é sportinguista.
VL - Ai é?
CM - Pois. Porque eles também não têm tempo, e tal. Simplesmente, eu vou tentar pôr outro... outro gajo, sem ser ele...
VL - Sim... sim...
JORGE MENDES
"O GAJO É LÁ DA POLÍCIA, EM GAIA, TEM ALGUM INTERESSE"
Pinto da Costa pediu ao empresário para ‘observar’ um guarda-redes, que um comissário da Polícia de Gaia lhe pediu para contratar. O empresário diz que o jogador não é para o Porto, mas o dirigente insiste, e aproveita também para tentar saber se o polícia tem algum interesse.
Pinto da Costa (PC) - Olhe uma coisa... você conhece? ... aquele jogador, um gajo chamado Colaço, que é guarda-redes do Fão...? Sabe quem é?
Jorge Mendes (JM) - Ó pá, aquilo é da zona lá do Carlos... é da zona dele... é capaz... ele mora ali ao pé, como ele vê muito essa equipa... mas eu posso perguntar!
PC - Pergunte só...
JM- ... Não lhe vou dizer já!
PC-- É que veio aqui um... gajo, que é irmão dele...
JM- Ahhhhhh! Espere aí! Espere aí!
PC- Um gajo que é...
JM- Não é nada disso! Já sei o que é que você está a falar! Está a falar do comissário da Polícia!
PC-- Exacto!
JM- É pá, mas ouça lá! – Isto aqui estamos a falar os dois! – esqueça lá o guarda-redes, caralho!
PC-- Não vale nada?
JM- Ó pá, é normal... é normal... - a indicação que eu tenho, que nunca o vi, mas não é para o Porto nem pensar nisso! Nem coisa que se pareça!
PC-- Não, não!... mas ele também não era para o Porto! Ele, era “para ver se o puxava... se ajudava o rapaz, que ele era seu jogador, estava a jogar”...
JM- Ele disse-me, ontem... ele foi, ontem, lá ao meu escritório! Não me lar... está sempre... anda sempre atrás de mim, foi lá ontem, ao escritório o gajo!
PC - Um gajo magrinho, não é?
JM- Sim, magrinho... é comissário da Polícia!
PC - Exacto!
JM- Que é... que é... pronto! que está a jogar muito bem, não sei quê! Mas eu não sei o nível dele! Mas eu posso perguntar, depois digo-lhe!
PC-- Pergunte e ... e, depois, diga-me! É que o gajo é comissário lá da Polícia, em Gaia, tem sempre interesse!
JM- Está bem! Olhe uma coisa...
PC-- E veja lá se sabe como... se o polícia vale alguma coisa!
JM- Está! Eu digo-lhe alguma coisa!
PC-- OK! Está!
JM- Até já, até já!
LOURENÇO PINTO
" O LELLO DISSE-ME QUE ATÉ ME AGRADECIA MUITO"
Pinto da Costa e Lourenço Pinto decidem não apresentar queixa contra uma procuradora, que “tem muito peso”, mas avançam com uma contra a socialista Ana Gomes porque José Lello até agradecia.
LP ? Agora, a ... a Liga... o Major fodeu-me para aqui a cabeça... já tenho procuração da..da..da Federação e da Liga, para fazer o processo contra a Ana Gomes, não é?
PC? Sim
LP ? Isso vou fazer! Agora contra a procuradora... eu estou a ver se arranjo matéria, não é? Mas não sei se tenho matéria para... para...
PC? Não, e o Major disse-me que as declarações dela que não têm nada... o próprio Major me disse que até... Não, nem acho que se deva, agora, estar a... meter com a procuradora...
LP ? Nada, nada! Nem de perto nem de longe!
PC? Não porque aquilo também representa um grupo que tem... ela não é sozinha...
LP? É e tem peso, a gaja tem peso!
PC? Acho que nem o Major - e o meu amigo muito menos - está para meter-se nisso!
LP ? Não, não eu não me meto nada nisso! Agora, contra a Ana Gomes... contra a Ana Gomes... vou-lhe chegar!
PC? Ah, isso é diferente! Claro!
LP ? Ela chamou-nos ‘gabirus’, não é?
PC? ‘Gabirus’ que não pagam impostos!
LP ? É! Essa vai comer, não é? Vai comer!
PC? É... ela vai para o Parlamento Europeu, que eles querem-se ver livres dela!
LP ? Pois mas... mas vêem-se livres dela mas mandam-na para um tacho bestial, não é?
PC? Pois é!
LP ? Mandam-na para um tacho bestial!! O Lello disse--me que... que... até me agradecia muito que fizéssemos a queixa porque queriam ver--se livres dela...
PC? Pois!
LP? ... e, portanto, a queixa dá mais... mais força para... para a gaja desandar, não é?
Fonte:
Tânia Laranjo/Octávio Lopes
2 comentários:
ººº
Interessante...!
Amigo JOTA ENE... infelizmente é uma matéria interessante, antes não o fosse na realidade e antes eu não abordasse este assunto, seria sinal de que o nosso futebol seria um futebol limpo e sem esquemas.
Um abraço e obrigado pela visita e pelo comentário.
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