Há uns anos atrás o famoso Guarda Abel, fazia as delícias do FC Porto massacrando, ameaçando e agredindo tudo o que era árbitro para conseguir mais uns campeonatos corruptos.
Hoje os tempos são outros mas a genética é a mesma.
O Guarda Abel vai para a bancada dar calduços no Emplastro mas no túnel e nos balneários continua a haver um Macaco a distribuir fruta sempre que os resultados não são ao jeito tripeiro.
Veste um colete de Supervisor nos jogos mas nos outros dias usa fato de macaco e carrega malas aos jogadores.
Quem conhece os meandros do Dragão já deve ter encarado com a fera mas ele continua imune a toda a gente…
Que o digam os árbitros e os seus condutores…
É assim que se vão ganhando campeonatos sob o olhar e a opinião atabafada da imprensa.
O mais célebre episódio com o guarda Abel por protagonista aconteceu em vésperas de uma célebre deslocação do Benfica às Antas, num jogo que decidia o campeonato. João Santos era presidente das ‘águias’ e recebeu publicamente ameaças de morte, quando se encontrava na sede do Salgueiros, no Porto, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais.
O Benfica ganhou o jogo (e o campeonato) com dois golos de César Brito, e no final do encontro os dirigentes encarnados denunciaram o clima de terror imposto, culminado com insultos e agressões. João Santos não esteve presente e o então ‘vice’ Jorge de Brito abandonou as Antas escondido numa carrinha Ford Transit. Foi o auge da ‘intervenção pública’ do guarda Abel. Aos poucos as sua presença foi sendo cada vez mais discreta.
João Santos, antigo presidente do Benfica, relembra o episódio das ameaças de morte perpetradas pelo guarda Abel. “Estava em representação do clube na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais do Salgueiros. Logo no início do acto, entra na sala um indivíduo, o guarda Abel, que começa a injuriar-me. ameaçando-me de morte.
Acho que o fez porque nós denunciávamos frequentemente algumas práticas menos claras que ele e o seu grupo cometiam. Ele estava nitidamente embriagado, ou pelo menos actuava como tal. Lá o convenceram a sair da sala, mas fê-lo a custo e sempre a ameaçar-me de morte”.
João Santos garante ainda que nas deslocações a Lisboa, o grupo do guarda Abel “mostrava as metralhadoras que escondia debaixo das gabardinas, para intimidar. Segundo sei, eram armas da polícia, requisitadas à sexta-feira, antes dos jogos, e devolvidas na segunda-feira. Infelizmente, o processo sobre este caso não teve seguimento, pois o ministro da tutela de então parece que o guardou na gaveta. Razões políticas...”
GASPAR RAMOS:
O antigo chefe do futebol evoca o célebre FC Porto--Benfica de 91. “Houve um repórter fotográfico que fotografou a nossa equipa a vestir-se num corredor, porque puseram um produto tóxico no balneário. Quando de lá saiu, foi agredido e roubaram-lhe a máquina. Mas nós tínhamos-lhe pedido o rolo e por isso houve fotos do sucedido no dia seguinte”.
Gaspar Ramos
Há 13 anos, enquanto vice-presidente do Benfica, foi vítima de inúmeras ameaças. Denunciou as agressões, mas nunca apresentou queixa nos tribunais: “Não era uma prioridade. Entregámos o caso ao Governo”. Há uma semana ficou chocado ao voltar a ver o homem que vivia protegido por um intocável Pinto da Costa.
Correio da Manhã – Em 1991, foi uma vítima do guarda Abel, nomeadamente após um FC Porto-Benfica. O que sentiu quando viu, tantos anos depois, a fotografia dele nos jornais?
Gaspar Ramos – Não o identifiquei imediatamente, mas sabia que conhecia aquela figura de algum lado. Quando me apercebi que se tratava do guarda Abel, nem queria acreditar. Depois das denúncias que fizemos, depois dos tristes casos de 1991 esperava não voltar a vê-lo. Na altura, ele pertencia à ‘entourage’ de Reinaldo Teles e agora, aparece como guarda-costas da mulher de Pinto da Costa. Com este regresso, o guarda Abel humilhou a catedral e os benfiquistas. Chocou-me vê-lo na Luz.
Recordou o filme?
– Tudo. O que se passou no FC Porto-Benfica desse ano, a ameaça de morte do guarda Abel a João Santos, então presidente do Benfica, as ameaças telefónicas que sofri, eu e a minha família. Voltei a ver o filme.
Chegou a estar cara a cara com ele?
– Cheguei. E posso dizer que nunca tinha visto uns olhos com tanto ódio. Se pudessem disparar balas, aqueles olhos matavam.
A intimidação resultou?
– Não, medo nunca senti, mas era revoltante e muito perturbador. Quando recebia os telefonemas ameaçadores, nos quais prometiam fazer-me isto e aquilo, respondia sempre com dureza. Enquanto fui director do SLB nunca deixei, por medo ou intimidação, de denunciar tudo o que fosse contra o Benfica, em particular, e o futebol, em geral.
O Benfica chegou a recorrer aos tribunais?
– Não. Depois dos incidentes nas Antas, o Benfica fez uma exposição ao ministro da Educação, Roberto Carneiro, que tutelava, também, o desporto. Entregámos um dossier completo, que incluía fotografias da actuação do guarda Abel e do seu grupo, testemunhos de dirigentes agredidos nas Antas, num relato exaustivo do que se passou. Junto, seguiu um relatório que os dirigentes do Belenenses nos entregaram sobre os incidentes que ocorreram num Belenenses-FC Porto. Nesse relatório, os dirigentes do Belenenses afirmavam ter visto armas no estádio, levadas pelo guarda Abel e pelo seu grupo. O ministro mostrou-se muito preocupado, garantiu-nos que remeteria o processo ao Ministério da Administração Interna para investigação porque era preciso tomar medidas.
Dias Loureiro, o então ministro da Administração Interna, chegou a apresentar um relatório que confirmava a existência desse grupo no FC Porto...
contrário contraditório, só que nunca ninguém foi punido. O único que se sentou no banco dos réus fui eu porque chamei hipócrita a Pinto da Costa.
Com todos esses dados é difícil de explicar a inexistência de uma queixa-crime nos tribunais...
– Naquela altura não se recorria ao tribunal como agora. Entregámos o caso ao Governo e ficámos à espera. A investigação do Ministério da Administração Interna foi lenta e o tempo foi passando. Limitámos-nos a denunciar o caso na comunicação social e ao Governo.
Como explica que não tenha havido punição?
– Naquela altura era muito difícil mexer com Pinto da Costa. Ele controlava realmente o sistema e afrontá-lo era quase impensável. Não existe qualquer tipo de semelhança com o que se passa hoje. Agora é fácil, até porque Pinto da Costa não tem, realmente, a força que tinha e que levava o poder político a temer o mais pequeno confronto. Fez-se aquele relatório, mas depois o caso acabou por ser esquecido.
Mas havia provas concretas da ligação entre o guarda Abel e Pinto da Costa?
– O guarda Abel tinha um cartão passado pela Federação que lhe permitia seguir a comitiva do FC Porto e ter acesso aos campos. Como era possível ele ter um cartão sem o presidente do clube saber disso?
Mas em todos os incidentes nunca se viram dirigentes misturados na confusão. Recorda-se da ameaça do guarda Abel a João Santos?
– Foi na tomada de posse do Salgueiros. O guarda Abel apareceu e disse que ia matá-lo ao hotel onde ele estava hospedado (creio que João Santos estava no Hotel Batalha). O episódio foi de tal maneira feio que o presidente do Salgueiros mandou o ‘chauffer’ trazer João Santos a Lisboa logo nessa noite, evitando assim a estadia no hotel.
As provas, pelos vistos, eram muitas...
– Eram, mas, como disse, nessa altura não era uma prioridade recorrer ao tribunal. Denunciámos, respondemos com determinação. E se não tivéssemos sido tão determinados não tínhamos ganhado o que ganhámos. O FC Porto percebeu que aquelas atitudes mereciam a condenação de todos e o certo é que o guarda Abel acabou por ser afastado e pouco tempo depois desapareceu. Quando os comportamentos deixavam transparecer demasiado e as atitudes era ostensivas, fosse na arbitragem ou na segurança, Pinto da Costa retirava-lhes a confiança. Veja-se os casos de Francisco Silva, Guímaro ou Calheiros.
Recorda-se desse jogo que o Benfica venceu, com dois golos de César Brito?
– Como se fosse hoje. A pressão começou antes do jogo. O FC Porto dizia que o árbitro do encontro, Carlos Valente, tinha viajado com a equipa do Benfica no mesmo comboio, o que era falso. No dia do jogo, os jogadores foram obrigados a equipar-se no corredor porque colocaram um produto tóxico nos balneários. O nosso fotógrafo tirou fotografias, mas, por precaução, entregou-nos o rolo. E fez bem, porque quando saiu tiraram-lhe a máquina. Acabámos por entregar o rolo à comunicação social.
Mas quem lhe tirou a máquina?
– O guarda Abel e o grupo que comandava e que andava por todo o lado, inclusivamente nos túneis de acesso ao relvado.
Chegaram a falar um com o outro?
– Qualquer diálogo era impossível porque eles vociferavam continuamente.
E os dirigentes do FC Porto nada faziam?
– Não. Nunca se viam dirigentes do FC Porto.
Chegaram a sentir necessidade de medidas especiais de segurança?
– Não. Os incidentes nas Antas tinham sido um escândalo, fora demonstrada a existência de uma guarda pretoriana dentro do FC Porto e alguns dirigentes do clube sentiam-se incomodados. José Guilherme Aguiar, que era vice-presidente do FC Porto, chegou a dizer-mo. Sobretudo, porque, no fim do jogo, Jorge de Brito e Fezas Vital foram agredidos quando se dirigiam à cabina e tiveram que se refugiar numa ambulância da Cruz Vermelha, ambulância essa que eles tentaram virar. Os dois dirigentes sofreram escoriações e, sobretudo, um enorme susto. Ainda bem que nessa altura o guarda Abel e o seu grupo desapareceram. Foi bom para todos, a começar pelo próprio FC Porto, um clube que não pode ser confundido com isto.
"VEIGA NÃO PODE MISTURAR BENFICA EM GUERRA PESSOAL"
A guerra de bilhetes que precedeu o último Benfica-FC Porto prejudicou ou beneficiou o Benfica?
– Pinto da Costa atirou uma casca de banana e os dirigentes do Benfica não o perceberam. Pinto da Costa não estava interessado em jogar, agora, aquele jogo. E porque com ele nada acontece por acaso, não acredito que o FC Porto se tivesse esquecido de requisitar os bilhetes a que tinha direito. Quem conhece Pinto da Costa sabe que isso é impossível. Penso que foi uma estratégia a que os dirigentes do Benfica não souberam responder. Não souberam manter a calma e o bom senso de quem leva quatro pontos de avanço. Essa calma e segurança teriam enervado muito mais o FC Porto.
O que pensa sobre o que se passou depois do jogo?
– Foram ditas frases e tomadas atitudes que nunca vi, nem ouvi no Benfica. Foi-se muito mais longe do que o próprio Pinto da Costa é capaz de ir nos seus piores momentos. Lamento que os actuais dirigentes do Benfica tomem a crítica como um ataque ao clube. E lamento que rotulem de despeitados todos os que discordam das suas atitudes.Eu estou à-vontade: não quero ser mais nada no SLB nem troco a minha liberdade por um lugar no camarote. As afirmações de José Veiga, secundadas pelo presidente, não se coadunam com a história do Benfica. José Veiga não pode misturar o Benfica na guerra pessoal que trava com Pinto da Costa. Não tem esse direito.
Mas também houve a provocação de Carolina Salgado...
– As atitudes devem ficar com quem as pratica. Os dirigentes do Benfica deviam ter-se limitado a este comentário. A discussão deveria ter sido voltada exclusivamente para a arbitragem porque, aí, estou de acordo, o Benfica foi prejudicado. E esse era o debate a fazer.
Quem é o Guarda Abel?
Segundo informação prestada ao CM pela Direcção Nacional da Polícia de Segurança Pública, Abel Gomes já não pertence ao quadro activo da Polícia. Entrou há 26 anos para aquela força de ordem pública e desde sempre se evidenciou pela forma fervorosa como apoiava o FC Porto.
Certo dia, numa deslocação ao Restelo, um grupo de elementos fez-se notar, por gestos e atitudes pouco comuns a acompanhantes de uma equipa de futebol. Possuíam cartões de livre trânsito emitidos pela FPF, que lhes franqueavam o acesso a zonas restritas dos estádios. Há quem garanta ter visto armas. Há até quem jure que eles próprios faziam questão de as exibir.
O guarda Abel era uma desses elementos, o que obrigou a PSP agir disciplinarmente. Abel Gomes acabaria por ser mais tarde colocado na Divisão de Trânsito, em funções de secretaria. Até entrar de baixa prolongada manteve essas funções. Há cerca de um mês passou à situação de pré-aposentação, ainda de acordo com informação prestada por fonte da Direcção Nacional da PSP.
AMEAÇAS DE MORTE
O mais célebre episódio com o guarda Abel por protagonista aconteceu em vésperas de uma célebre deslocação do Benfica às Antas, num jogo que decidia o campeonato. João Santos era presidente das ‘águias’ e recebeu publicamente ameaças de morte, quando se encontrava na sede do Salgueiros, no Porto, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais.
O Benfica ganhou o jogo (e o campeonato) com dois golos de César Brito, e no final do encontro os dirigentes encarnados denunciaram o clima de terror imposto, culminado com insultos e agressões. João Santos não esteve presente e o então ‘vice’ Jorge de Brito abandou as Antas escondido numa carrinha Ford Transit. Foi o auge da ‘intervenção pública’ do guarda Abel. Aos poucos as sua presença foi sendo cada vez mais discreta. Actualmente, segundo o CM apurou, Abel Gomes é treinador e dirigente dos ‘Passarinhos da Ribeira’, popular clube da cidade do Porto.
TESTEMUNHOS
JOÃO SANTOS: MOSTRAVAM METRALHADORAS...
João Santos, antigo presidente do Benfica, relembra o episódio das ameaças de morte perpetradas pelo guarda Abel. “Estava em representação do clube na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais do Salgueiros. Logo no início do acto, entra na sala um indivíduo, o guarda Abel, que começa a injuriar-me. ameaçando-me de morte.
Acho que o fez porque nós denunciávamos frequentemente algumas práticas menos claras que ele e o seu grupo cometiam. Ele estava nitidamente embriagado, ou pelo menos actuava como tal. Lá o convenceram a sair da sala, mas fê-lo a custo e sempre a ameaçar-me de morte”.
João Santos garante ainda que nas deslocações a Lisboa, o grupo do guarda Abel “mostrava as metralhadoras que escondia debaixo das gabardinas, para intimidar. Segundo sei, eram armas da polícia, requisitadas à sexta-feira, antes dos jogos, e devolvidas na segunda-feira. Infelizmente, o processo sobre este caso não teve seguimento, pois o ministro da tutela de então parece que o guardou na gaveta. Razões políticas...”
GASPAR RAMOS: FOTÓGRAFO SEM MÁQUINA
O antigo chefe do futebol evoca o célebre FC Porto--Benfica de 91. “Houve um repórter fotográfico que fotografou a nossa equipa a vestir-se num corredor, porque puseram um produto tóxico no balneário. Quando de lá saiu, foi agredido e roubaram-lhe a máquina. Mas nós tínhamos-lhe pedido o rolo e por isso houve fotos do sucedido no dia seguinte”.
HERNÂNI GONÇALVES: O BALNEÁRIO É UM SANTUÁRIO
“O guarda Abel é um polícia muito competente e um portista ferrenho, do qual tenho o prazer de ser amigo. Há uns anos, em Alvalade, houve um diferendo entre o Branco e um jogador do Sporting. A polícia quis entrar no balneário e ele disse-lhes: “Alto que aqui ninguém entra. Isto é um santuário fora da autoridade policial”. E eles não entraram”.
Hoje os tempos são outros mas a genética é a mesma.
O Guarda Abel vai para a bancada dar calduços no Emplastro mas no túnel e nos balneários continua a haver um Macaco a distribuir fruta sempre que os resultados não são ao jeito tripeiro.
Veste um colete de Supervisor nos jogos mas nos outros dias usa fato de macaco e carrega malas aos jogadores.
Quem conhece os meandros do Dragão já deve ter encarado com a fera mas ele continua imune a toda a gente…
Que o digam os árbitros e os seus condutores…
É assim que se vão ganhando campeonatos sob o olhar e a opinião atabafada da imprensa.
O mais célebre episódio com o guarda Abel por protagonista aconteceu em vésperas de uma célebre deslocação do Benfica às Antas, num jogo que decidia o campeonato. João Santos era presidente das ‘águias’ e recebeu publicamente ameaças de morte, quando se encontrava na sede do Salgueiros, no Porto, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais.
O Benfica ganhou o jogo (e o campeonato) com dois golos de César Brito, e no final do encontro os dirigentes encarnados denunciaram o clima de terror imposto, culminado com insultos e agressões. João Santos não esteve presente e o então ‘vice’ Jorge de Brito abandonou as Antas escondido numa carrinha Ford Transit. Foi o auge da ‘intervenção pública’ do guarda Abel. Aos poucos as sua presença foi sendo cada vez mais discreta.
João Santos, antigo presidente do Benfica, relembra o episódio das ameaças de morte perpetradas pelo guarda Abel. “Estava em representação do clube na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais do Salgueiros. Logo no início do acto, entra na sala um indivíduo, o guarda Abel, que começa a injuriar-me. ameaçando-me de morte.
Acho que o fez porque nós denunciávamos frequentemente algumas práticas menos claras que ele e o seu grupo cometiam. Ele estava nitidamente embriagado, ou pelo menos actuava como tal. Lá o convenceram a sair da sala, mas fê-lo a custo e sempre a ameaçar-me de morte”.
João Santos garante ainda que nas deslocações a Lisboa, o grupo do guarda Abel “mostrava as metralhadoras que escondia debaixo das gabardinas, para intimidar. Segundo sei, eram armas da polícia, requisitadas à sexta-feira, antes dos jogos, e devolvidas na segunda-feira. Infelizmente, o processo sobre este caso não teve seguimento, pois o ministro da tutela de então parece que o guardou na gaveta. Razões políticas...”
GASPAR RAMOS:
O antigo chefe do futebol evoca o célebre FC Porto--Benfica de 91. “Houve um repórter fotográfico que fotografou a nossa equipa a vestir-se num corredor, porque puseram um produto tóxico no balneário. Quando de lá saiu, foi agredido e roubaram-lhe a máquina. Mas nós tínhamos-lhe pedido o rolo e por isso houve fotos do sucedido no dia seguinte”.
Gaspar Ramos
Há 13 anos, enquanto vice-presidente do Benfica, foi vítima de inúmeras ameaças. Denunciou as agressões, mas nunca apresentou queixa nos tribunais: “Não era uma prioridade. Entregámos o caso ao Governo”. Há uma semana ficou chocado ao voltar a ver o homem que vivia protegido por um intocável Pinto da Costa.
Correio da Manhã – Em 1991, foi uma vítima do guarda Abel, nomeadamente após um FC Porto-Benfica. O que sentiu quando viu, tantos anos depois, a fotografia dele nos jornais?
Gaspar Ramos – Não o identifiquei imediatamente, mas sabia que conhecia aquela figura de algum lado. Quando me apercebi que se tratava do guarda Abel, nem queria acreditar. Depois das denúncias que fizemos, depois dos tristes casos de 1991 esperava não voltar a vê-lo. Na altura, ele pertencia à ‘entourage’ de Reinaldo Teles e agora, aparece como guarda-costas da mulher de Pinto da Costa. Com este regresso, o guarda Abel humilhou a catedral e os benfiquistas. Chocou-me vê-lo na Luz.
Recordou o filme?
– Tudo. O que se passou no FC Porto-Benfica desse ano, a ameaça de morte do guarda Abel a João Santos, então presidente do Benfica, as ameaças telefónicas que sofri, eu e a minha família. Voltei a ver o filme.
Chegou a estar cara a cara com ele?
– Cheguei. E posso dizer que nunca tinha visto uns olhos com tanto ódio. Se pudessem disparar balas, aqueles olhos matavam.
A intimidação resultou?
– Não, medo nunca senti, mas era revoltante e muito perturbador. Quando recebia os telefonemas ameaçadores, nos quais prometiam fazer-me isto e aquilo, respondia sempre com dureza. Enquanto fui director do SLB nunca deixei, por medo ou intimidação, de denunciar tudo o que fosse contra o Benfica, em particular, e o futebol, em geral.
O Benfica chegou a recorrer aos tribunais?
– Não. Depois dos incidentes nas Antas, o Benfica fez uma exposição ao ministro da Educação, Roberto Carneiro, que tutelava, também, o desporto. Entregámos um dossier completo, que incluía fotografias da actuação do guarda Abel e do seu grupo, testemunhos de dirigentes agredidos nas Antas, num relato exaustivo do que se passou. Junto, seguiu um relatório que os dirigentes do Belenenses nos entregaram sobre os incidentes que ocorreram num Belenenses-FC Porto. Nesse relatório, os dirigentes do Belenenses afirmavam ter visto armas no estádio, levadas pelo guarda Abel e pelo seu grupo. O ministro mostrou-se muito preocupado, garantiu-nos que remeteria o processo ao Ministério da Administração Interna para investigação porque era preciso tomar medidas.
Dias Loureiro, o então ministro da Administração Interna, chegou a apresentar um relatório que confirmava a existência desse grupo no FC Porto...
contrário contraditório, só que nunca ninguém foi punido. O único que se sentou no banco dos réus fui eu porque chamei hipócrita a Pinto da Costa.
Com todos esses dados é difícil de explicar a inexistência de uma queixa-crime nos tribunais...
– Naquela altura não se recorria ao tribunal como agora. Entregámos o caso ao Governo e ficámos à espera. A investigação do Ministério da Administração Interna foi lenta e o tempo foi passando. Limitámos-nos a denunciar o caso na comunicação social e ao Governo.
Como explica que não tenha havido punição?
– Naquela altura era muito difícil mexer com Pinto da Costa. Ele controlava realmente o sistema e afrontá-lo era quase impensável. Não existe qualquer tipo de semelhança com o que se passa hoje. Agora é fácil, até porque Pinto da Costa não tem, realmente, a força que tinha e que levava o poder político a temer o mais pequeno confronto. Fez-se aquele relatório, mas depois o caso acabou por ser esquecido.
Mas havia provas concretas da ligação entre o guarda Abel e Pinto da Costa?
– O guarda Abel tinha um cartão passado pela Federação que lhe permitia seguir a comitiva do FC Porto e ter acesso aos campos. Como era possível ele ter um cartão sem o presidente do clube saber disso?
Mas em todos os incidentes nunca se viram dirigentes misturados na confusão. Recorda-se da ameaça do guarda Abel a João Santos?
– Foi na tomada de posse do Salgueiros. O guarda Abel apareceu e disse que ia matá-lo ao hotel onde ele estava hospedado (creio que João Santos estava no Hotel Batalha). O episódio foi de tal maneira feio que o presidente do Salgueiros mandou o ‘chauffer’ trazer João Santos a Lisboa logo nessa noite, evitando assim a estadia no hotel.
As provas, pelos vistos, eram muitas...
– Eram, mas, como disse, nessa altura não era uma prioridade recorrer ao tribunal. Denunciámos, respondemos com determinação. E se não tivéssemos sido tão determinados não tínhamos ganhado o que ganhámos. O FC Porto percebeu que aquelas atitudes mereciam a condenação de todos e o certo é que o guarda Abel acabou por ser afastado e pouco tempo depois desapareceu. Quando os comportamentos deixavam transparecer demasiado e as atitudes era ostensivas, fosse na arbitragem ou na segurança, Pinto da Costa retirava-lhes a confiança. Veja-se os casos de Francisco Silva, Guímaro ou Calheiros.
Recorda-se desse jogo que o Benfica venceu, com dois golos de César Brito?
– Como se fosse hoje. A pressão começou antes do jogo. O FC Porto dizia que o árbitro do encontro, Carlos Valente, tinha viajado com a equipa do Benfica no mesmo comboio, o que era falso. No dia do jogo, os jogadores foram obrigados a equipar-se no corredor porque colocaram um produto tóxico nos balneários. O nosso fotógrafo tirou fotografias, mas, por precaução, entregou-nos o rolo. E fez bem, porque quando saiu tiraram-lhe a máquina. Acabámos por entregar o rolo à comunicação social.
Mas quem lhe tirou a máquina?
– O guarda Abel e o grupo que comandava e que andava por todo o lado, inclusivamente nos túneis de acesso ao relvado.
Chegaram a falar um com o outro?
– Qualquer diálogo era impossível porque eles vociferavam continuamente.
E os dirigentes do FC Porto nada faziam?
– Não. Nunca se viam dirigentes do FC Porto.
Chegaram a sentir necessidade de medidas especiais de segurança?
– Não. Os incidentes nas Antas tinham sido um escândalo, fora demonstrada a existência de uma guarda pretoriana dentro do FC Porto e alguns dirigentes do clube sentiam-se incomodados. José Guilherme Aguiar, que era vice-presidente do FC Porto, chegou a dizer-mo. Sobretudo, porque, no fim do jogo, Jorge de Brito e Fezas Vital foram agredidos quando se dirigiam à cabina e tiveram que se refugiar numa ambulância da Cruz Vermelha, ambulância essa que eles tentaram virar. Os dois dirigentes sofreram escoriações e, sobretudo, um enorme susto. Ainda bem que nessa altura o guarda Abel e o seu grupo desapareceram. Foi bom para todos, a começar pelo próprio FC Porto, um clube que não pode ser confundido com isto.
"VEIGA NÃO PODE MISTURAR BENFICA EM GUERRA PESSOAL"
A guerra de bilhetes que precedeu o último Benfica-FC Porto prejudicou ou beneficiou o Benfica?
– Pinto da Costa atirou uma casca de banana e os dirigentes do Benfica não o perceberam. Pinto da Costa não estava interessado em jogar, agora, aquele jogo. E porque com ele nada acontece por acaso, não acredito que o FC Porto se tivesse esquecido de requisitar os bilhetes a que tinha direito. Quem conhece Pinto da Costa sabe que isso é impossível. Penso que foi uma estratégia a que os dirigentes do Benfica não souberam responder. Não souberam manter a calma e o bom senso de quem leva quatro pontos de avanço. Essa calma e segurança teriam enervado muito mais o FC Porto.
O que pensa sobre o que se passou depois do jogo?
– Foram ditas frases e tomadas atitudes que nunca vi, nem ouvi no Benfica. Foi-se muito mais longe do que o próprio Pinto da Costa é capaz de ir nos seus piores momentos. Lamento que os actuais dirigentes do Benfica tomem a crítica como um ataque ao clube. E lamento que rotulem de despeitados todos os que discordam das suas atitudes.Eu estou à-vontade: não quero ser mais nada no SLB nem troco a minha liberdade por um lugar no camarote. As afirmações de José Veiga, secundadas pelo presidente, não se coadunam com a história do Benfica. José Veiga não pode misturar o Benfica na guerra pessoal que trava com Pinto da Costa. Não tem esse direito.
Mas também houve a provocação de Carolina Salgado...
– As atitudes devem ficar com quem as pratica. Os dirigentes do Benfica deviam ter-se limitado a este comentário. A discussão deveria ter sido voltada exclusivamente para a arbitragem porque, aí, estou de acordo, o Benfica foi prejudicado. E esse era o debate a fazer.
Quem é o Guarda Abel?
Segundo informação prestada ao CM pela Direcção Nacional da Polícia de Segurança Pública, Abel Gomes já não pertence ao quadro activo da Polícia. Entrou há 26 anos para aquela força de ordem pública e desde sempre se evidenciou pela forma fervorosa como apoiava o FC Porto.
Certo dia, numa deslocação ao Restelo, um grupo de elementos fez-se notar, por gestos e atitudes pouco comuns a acompanhantes de uma equipa de futebol. Possuíam cartões de livre trânsito emitidos pela FPF, que lhes franqueavam o acesso a zonas restritas dos estádios. Há quem garanta ter visto armas. Há até quem jure que eles próprios faziam questão de as exibir.
O guarda Abel era uma desses elementos, o que obrigou a PSP agir disciplinarmente. Abel Gomes acabaria por ser mais tarde colocado na Divisão de Trânsito, em funções de secretaria. Até entrar de baixa prolongada manteve essas funções. Há cerca de um mês passou à situação de pré-aposentação, ainda de acordo com informação prestada por fonte da Direcção Nacional da PSP.
AMEAÇAS DE MORTE
O mais célebre episódio com o guarda Abel por protagonista aconteceu em vésperas de uma célebre deslocação do Benfica às Antas, num jogo que decidia o campeonato. João Santos era presidente das ‘águias’ e recebeu publicamente ameaças de morte, quando se encontrava na sede do Salgueiros, no Porto, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais.
O Benfica ganhou o jogo (e o campeonato) com dois golos de César Brito, e no final do encontro os dirigentes encarnados denunciaram o clima de terror imposto, culminado com insultos e agressões. João Santos não esteve presente e o então ‘vice’ Jorge de Brito abandou as Antas escondido numa carrinha Ford Transit. Foi o auge da ‘intervenção pública’ do guarda Abel. Aos poucos as sua presença foi sendo cada vez mais discreta. Actualmente, segundo o CM apurou, Abel Gomes é treinador e dirigente dos ‘Passarinhos da Ribeira’, popular clube da cidade do Porto.
TESTEMUNHOS
JOÃO SANTOS: MOSTRAVAM METRALHADORAS...
João Santos, antigo presidente do Benfica, relembra o episódio das ameaças de morte perpetradas pelo guarda Abel. “Estava em representação do clube na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais do Salgueiros. Logo no início do acto, entra na sala um indivíduo, o guarda Abel, que começa a injuriar-me. ameaçando-me de morte.
Acho que o fez porque nós denunciávamos frequentemente algumas práticas menos claras que ele e o seu grupo cometiam. Ele estava nitidamente embriagado, ou pelo menos actuava como tal. Lá o convenceram a sair da sala, mas fê-lo a custo e sempre a ameaçar-me de morte”.
João Santos garante ainda que nas deslocações a Lisboa, o grupo do guarda Abel “mostrava as metralhadoras que escondia debaixo das gabardinas, para intimidar. Segundo sei, eram armas da polícia, requisitadas à sexta-feira, antes dos jogos, e devolvidas na segunda-feira. Infelizmente, o processo sobre este caso não teve seguimento, pois o ministro da tutela de então parece que o guardou na gaveta. Razões políticas...”
GASPAR RAMOS: FOTÓGRAFO SEM MÁQUINA
O antigo chefe do futebol evoca o célebre FC Porto--Benfica de 91. “Houve um repórter fotográfico que fotografou a nossa equipa a vestir-se num corredor, porque puseram um produto tóxico no balneário. Quando de lá saiu, foi agredido e roubaram-lhe a máquina. Mas nós tínhamos-lhe pedido o rolo e por isso houve fotos do sucedido no dia seguinte”.
HERNÂNI GONÇALVES: O BALNEÁRIO É UM SANTUÁRIO
“O guarda Abel é um polícia muito competente e um portista ferrenho, do qual tenho o prazer de ser amigo. Há uns anos, em Alvalade, houve um diferendo entre o Branco e um jogador do Sporting. A polícia quis entrar no balneário e ele disse-lhes: “Alto que aqui ninguém entra. Isto é um santuário fora da autoridade policial”. E eles não entraram”.
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O TÚNEL DA MADALENA
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